OS CAMINHOS DE JESUS

Por Cezar Guedes em 29/03/2020 às 16:21:54
O Monte das Oliveiras, com a Igreja de Todas as Nações em primeiro plano, cenário dos últimos dias da vida terrena de Jesus / GB Imagem

O Monte das Oliveiras, com a Igreja de Todas as Nações em primeiro plano, cenário dos últimos dias da vida terrena de Jesus / GB Imagem

Muitos brasileiros estão vivendo o momento de quarentena para o enfrentamento à proliferação do coronavírus e por isso nem pensar em sair de casa. Também para os cristãos é época de Quaresma. É tradição na Igreja Católica e em algumas Igrejas Protestantes históricas lembrar a data com várias programações neste período, mas, infelizmente, na crise em que estamos vivendo a participação dos fiéis está terminantemente proibida.

Para conhecer os cenários reais por onde Jesus passou, os turistas costumam iniciar sua visita a Jerusalém pelo Monte das Oliveiras. Boa parte dos episódios decisivos da vida de Jesus teve por cenário essa elevação não muito íngreme - na verdade, mais uma colina que propriamente um monte. Foi de seu topo que, de acordo com os Evangelhos, ele subiu aos céus, desaparecendo entre as nuvens. A Igreja da Ascensão, um pequenino templo octogonal bizantino, assinala o local provável da cena; cem metros adiante, numa parada igualmente inspiradora, fica a Igreja do Pai-Nosso. Suas paredes abrigam, num show de azulejos coloridos, a principal oração cristã escrita em 240 idiomas diferentes. Pouco mais abaixo, outro marco: a Igreja de Dominus Flevit (a Lágrima do Senhor). Quase aos pés do monte, encontra-se o Getsêmani (o Horto das Oliveiras). No lugar ergue-se hoje a Igreja de Todas as Nações, sob cujo altar repousa a Rocha da Agonia de Jesus. No modesto jardim adjacente, algumas oliveiras com mais de 2 mil anos de idade ainda exibem brotos em meio aos galhos retorcidos. Numa gruta vizinha, a da Traição, Jesus foi delatado por Judas e preso. Teve então início, ali, sua derradeira jornada; aquela em que, pela última vez, cruzaria as muralhas de Jerusalém, rumo ao Calvário e à morte. A mítica Via Dolorosa demarca os últimos passos de Jesus neste mundo. Foram pouco mais de mil metros de um aclive ligeiro até que ele chegasse ao Santo Sepulcro - capítulo final de uma história cujo mistério e dramaticidade, 21 séculos mais tarde, ainda fascinam a humanidade.

Uma saga que teve seu primeiro ato um pouco mais ao sul, do outro lado do Monte das Oliveiras. Mais exatamente em Belém - hoje, na prática, um subúrbio de Jerusalém. Conhecer a Basílica da Natividade, onde Jesus nasceu, não tem preço. O templo abriga três igrejas (católica, grega ortodoxa e armênia) e inúmeras grutas. Como no Santo Sepulcro, suas relíquias são criteriosamente partilhadas pelas três denominações.

Um pulo na história e Jesus já pré-adolescente vivendo em Nazaré, na Galileia, 150 quilômetros ao norte de Jerusalém. A Basílica da Anunciação é o seu epicentro turístico. A suntuosidade interna da Basílica da Anunciação contrasta com a atmosfera singela da gruta em seu subsolo, que, supostamente, serviu de morada para a sagrada família. Embora bem menos majestosa, a vizinha Igreja de São José exala um delicado aconchego. Ruínas daquela que teria sido sua carpintaria são hoje objeto de devoção.

Jesus também teria vivido em Cafarnaum, no extremo norte do Mar da Galileia (também chamado de Mar de Tiberíades). Uma hora de carro basta para percorrer a pequena distância (cerca de 60 quilômetros) que separa Nazaré dessa cidade. O intenso rastro místico deixado por Jesus, no entanto, torna obrigatórias algumas paradas pelo caminho. O Monte Tabor, cerca de 30 quilômetros a sudeste, é a primeira. No seu cume, de onde se avista toda a planície da Baixa Galileia, teria ocorrido a "transfiguração", um dos mistérios mais instigantes do Novo Testamento. Noutro acorde de um dueto que se repete por toda a Terra Santa, uma linda basílica franciscana e uma igreja grega ortodoxa celebram lado a lado mais essa passagem.

Pertinho dali fica o kibutz Kinneret, próximo ao ponto em que o lendário Rio Jordão deixa o Mar da Galileia (na verdade, um lago) e segue seu curso sinuoso rumo ao Mar Morto. Eis o local do batismo de Jesus. Um plácido jardim junto às águas calmas do rio (pouco mais que um riacho) recebe os turistas.

A jornada prossegue rumo ao norte, costeando o Mar da Galileia. Nas diversas aldeias de pescadores desse território em que hoje se concentra a maioria dos 270 kibutzim israelenses, Jesus encontrou seus primeiros seguidores. Nessa região encantadora, ele fez mais sermões e realizou mais milagres que em qualquer outro lugar. Pouco após Tiberíades, hoje um balneário famoso por suas águas termais, é como se as páginas do Novo Testamento desfilassem pelo para-brisa. Primeiro vem Magdala (hoje chamada Migdal), cidade natal de Maria Madalena, a pecadora de cujo corpo Jesus teria expulsado sete demônios.

Menos de 2 quilômetros ao norte, no kibutz Ginnosar, outro milagre - esse de natureza arqueológica. Trata-se de um barco, retirado das águas do lago em 1986, durante uma seca. Exames com carbono 14 atestam que ele data do Século I - podendo ser do mesmo tipo dos usados pelos discípulos de Jesus.

Ao avançar pelo Vale de Gennesareth, nos arredores de Tabga, desponta a Igreja do Heptágono. É esse, segundo a tradição, o local em que se deu a primeira multiplicação, milagre em que cinco pães e dois peixes bastaram para saciar a fome de 5 mil pessoas. O Monte das Bem-Aventuranças, cenário do Sermão da Montanha, é, de longe, um dos recantos mais inspiradores de toda a Terra Santa: uma pequena e linda igreja em arcos, cercada por jardins de impressionante quietude.

Túmulo de Jesus dentro da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém / GB Imagem
A casa de Pedro, o pescador humilde que se tornou um dos primeiros discípulos de Jesus encontra-se em Cafarnaum. Suas fundações ainda podem ser vistas, cobertas por uma igreja modernista que imita a forma de um barco.

Depois e mais alguns acontecimentos Jesus iniciou sua derradeira viagem a Jerusalém. Há pouca certeza sobre esse seu último roteiro. Em Jericó, a mais antiga cidade do mundo, fica o Monte da Tentação, que, tempos antes, retirara-se, só e confuso, após ter recebido o batismo, e jejuara por 40 dias.

De Jericó, subiu em direção a Jerusalém, parando em Betânia, já quase à chegada, na casa de parentes. Nesse vilarejo, hoje também situado em território palestino, Jesus perpetrou um de seus milagres mais impressionantes. Ressuscitou Lázaro, que morrera havia dias. O túmulo, real ou simulacro, está lá até hoje.

Depois, à medida que se aproximava de Jerusalém, abateu-se a vertigem sobre seus dias: a entrada triunfal na cidade, as pregações cada vez mais inflamadas no templo, o barulho nas ruas, os judeus e romanos indóceis... Os Evangelhos nos mostram Jesus então às voltas com dúvidas atrozes. Suas naturezas, humana e divina digladiavam-se. A segunda prevaleceu. Na Última Ceia, que teria sido celebrada exatamente sobre o túmulo de Davi, no Monte Sião, no local hoje conhecido como Cenáculo.

Nas primeiras horas dessa noite duríssima, dando momentaneamente as costas para Jerusalém, ele galga o Monte das Oliveiras até atingir o jardim chamado Getsêmani. Ali, angustiado, Jesus afasta-se dos apóstolos e faz uma súplica comovente aos céus. "Se possível, Pai, afasta de mim esse cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que Tu queres" (Marcos 14.35). Pela primeira e única vez, Jesus pediu ao Pai por sua própria vida. Não foi atendido. Era preciso que morresse como homem - a fim de que, para muitos, pudesse sobreviver como Deus.

Toda a chamada Terra Santa situa-se hoje no território de Israel, país criado em 1948 e que, desde então, vem enfrentando sucessivas guerras com seus vizinhos árabes: Egito ao sul; Jordânia a leste; e Líbano e Síria ao norte.

Para visitar Israel, prefira as meias-estações (de março a maio e de setembro a novembro), quando as temperaturas são mais amenas. O verão (julho e agosto) é literalmente escaldante. O inverno, especialmente em dezembro e janeiro, é relativamente rigoroso.

Israel tem um pequeno território - apenas 20 770 km2, dez vezes menor que o Estado de São Paulo - e uma ótima rede de estradas: um destino perfeito, portanto, para se conhecer de carro. A situação política, porém, desaconselha dirigir sozinho pelo país. Caso pretenda visitar outras cidades que não Jerusalém, o ideal é acertar com sua operadora, ainda aqui no Brasil, o aluguel de um veículo com guia-motorista. O hebraico, idioma oficial de Israel, é bem impenetrável. Mas sem drama, já que boa parte da população (mesmo nos territórios palestinos) fala inglês ou ao menos compreende seus fundamentos.

Agora é só esperar a crise mundial passar e começar a planejar suas férias e conhecer os lugares por onde Jesus passou.

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