Willian Policiano Peres Soares, ex-secretário de Saúde de Silva Jardim, pediu exoneração do cargo em meio a denúncias de favorecimento e suspeita de superfaturamento de exames médicos
O pedido de exoneração de Willian Policiano Peres Soares do cargo de secretário municipal de Saúde de Silva Jardim, ocorrido nesta quarta-feira (9), lança uma nova sombra sobre os caminhos tortuosos da gestão pública na cidade. Em meio a graves denúncias de fraudes em licitações, favorecimento empresarial e suspeitas de superfaturamento de exames médicos, o episódio reacende o debate sobre a transparência (ou falta dela) nos contratos firmados pela gestão da prefeita Maira Figueiredo — especialmente aqueles que envolvem prestação de serviços essenciais à população.
A exoneração do secretário não é, por si só, uma comprovação de culpa, mas as circunstâncias que a cercam tornam o afastamento mais do que oportuno: ele se dá enquanto o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) conduz um Procedimento Investigatório Criminal (PIC), sob a relatoria do promotor Marcelo Arsênio, para apurar indícios de ilegalidades em processos de credenciamento e contratação de serviços via SUS.
A denúncia, formalizada pelo ex-vereador Luiz Evandro Macedo de Barros Junior — conhecido politicamente como Juninho Peruca —, menciona que Policiano teria favorecido a empresa Quality Soluções em Recursos Humanos LTDA, com sede em Araruama, após a saída precoce da empresa concorrente TOP Service Brasil, que desistiu do contrato poucos dias depois do credenciamento. Essa movimentação abriu um caminho para que a Quality assumisse os serviços, levantando suspeitas quanto ao processo de escolha e atribuição do contrato.
Mais alarmante ainda é o fato de que, segundo Peruca, Policiano teria representado uma outra empresa — a MBI Serviços Médicos LTDA — durante uma licitação realizada em março de 2024, no município de Armação dos Búzios. A MBI possui o mesmo endereço da Quality, o que pode apontar para uma relação direta, ou ao menos proximidade institucional, entre o secretário e a empresa favorecida. As conexões não são definitivas, mas são suficientes para justificar a investigação.
Com o novo contrato da Quality em vigor, os preços cobrados pelos exames médicos, especialmente os de média e alta complexidade, teriam sofrido aumentos expressivos. O detalhe preocupante, segundo Peruca, é a forma como os exames vêm sendo tarifados — individualmente e com valores considerados exorbitantes — o que, na prática, pode representar um dreno significativo nos cofres públicos. "Nesse sentido, existem passíveis fraudes a serem apuradas", alerta o parlamentar.
Diante desse cenário, o afastamento do secretário, embora tardio para alguns, representa um movimento necessário para preservar tanto a lisura das investigações quanto a credibilidade da estrutura pública de saúde do município. Mas, mais do que afastamentos, a população espera respostas concretas: quem ganhou com esses contratos? Houve de fato superfaturamento? E o mais urgente: quanto a saúde pública de Silva Jardim perdeu nesse processo?
As investigações agora estão nas mãos do Ministério Público, que tem a responsabilidade de escancarar os bastidores dessa possível rede de favorecimentos e, se confirmadas as irregularidades, responsabilizar exemplarmente os envolvidos. O episódio expõe como a corrupção, mesmo em cidades de pequeno e médio porte como Silva Jardim, pode se enraizar nas engrenagens do serviço público, muitas vezes se valendo de estruturas frágeis de controle, fiscalização e participação cidadã.
A renúncia de Willian Policiano deve ser o ponto de partida, e não o ponto final, para uma profunda revisão dos contratos na área da Saúde, uma auditoria rigorosa sobre os valores pagos e uma reestruturação que coloque os interesses da população — e não os de grupos empresariais — em primeiro lugar.
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