Nicette Bruno, uma atriz que deixará saudade

Por Cezar Guedes em 26/12/2020 às 13:03:01
Como tantos milhares de brasileiros, Nicette Bruno foi uma das vítimas fatais da Covid-19 e deixa um legado de mais de 80 anos dedicado à carreira artística / Raquel Cunha-RG

Como tantos milhares de brasileiros, Nicette Bruno foi uma das vítimas fatais da Covid-19 e deixa um legado de mais de 80 anos dedicado à carreira artística / Raquel Cunha-RG

O cenário brasileiro ficou mais triste no último domingo, com a notícia da morte da grande atriz Nicette Bruno. Durante mais de sete décadas, o sorriso marcante de Nicette brilhou no teatro, no cinema e na televisão. A atriz deu vida a mocinhas, vilãs, freiras, integrantes da alta sociedade, empresárias e mulheres simples. E interpretou, por duas vezes na carreira, uma das avós mais queridas da literatura brasileira, a Dona Benta, do "Sítio do Pica Pau Amarelo". A artista morreu, na cidade do Rio de Janeiro, devido a complicações decorrentes da Covid-19, aos 87 anos. Nicette deixou três filhos atores: Paulo Goulart Filho, Bárbara Bruno e Beth Goulart, frutos do casamento de mais de 60 anos com Paulo Goulart, falecido em 2014; 8 netos e 5 bisnetos. O velório da artista foi restrito aos familiares e seu corpo foi cremado. As cinzas serão enterradas no jazigo da família em São Paulo onde também está sepultado seu marido.

A atriz nasceu Nicete Xavier Miessa, em 07 de janeiro de 1933. Desde pequena já circulava pelos corredores da extinta Rádio Guanabara, no Rio de Janeiro. A menina-prodígio, nascida em Niterói, começou a carreira aos 4 anos, declamando e cantando em um programa infantil. O teatro entrou para sua vida aos 11. Três anos mais tarde já era contratada da Companhia Dulcina-Odilon e recebeu o prêmio de atriz revelação da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, pela atuação em "A Filha de Iório".

Foi no Teatro de Alumínio, em São Paulo, do qual foi uma das fundadoras, que Nicette Bruno conheceu Paulo Goulart. Os dois trocaram os primeiros carinhos nos camarins durante os intervalos do espetáculo "Senhorita Minha Mãe". "Eu e Paulo tínhamos uma afinidade cênica muito grande. Tanto que nos conhecemos em cena, né? Trabalhar junto era muito bom, porque tínhamos a mesma seriedade, sabíamos separar a nossa relação. Quando estávamos em cena, éramos personagens, não a nossa individualidade", contou Nicette em entrevista ao Memória Globo.

Uma das pioneiras da televisão brasileira, Nicette estreou na TV Tupi logo após sua inauguração, em 1950, participando de recitais e teleteatros. Lá, interpretou Dona Benta pela primeira vez, entre 1952 e 1962. Voltou ao papel da avó de Pedrinho e Narizinho na adaptação do "Sítio do Pica Pau Amarelo" exibida pela Globo entre 2002 e 2004.

Em 1980, Nicette foi convidada para trabalhar na Globo, no seriado "Obrigado, Doutor". O primeiro papel em novelas foi em "Sétimo Sentido" (1982), de Janete Clair, e então vieram personagens inesquecíveis como a Joana, de "Tenda dos Milagres" (1985); a Julieta Sampaio, de "Mulheres de Areia" (1993); a Ofélia, de "Alma Gêmea" (2005); a Júlia Spina, mãe de Jacques Leclair, no remake de "Ti-Ti-Ti" (2010); e a matriarca portuguesa Santinha, de "Joia Rara" (2013), novela vencedora do Emmy. Nicette brincava com o fato de só ter interpretado sua primeira vilã na televisão em 1997, com a Úrsula de "O Amor Está no Ar" (1997). "No teatro, eu já havia feito muitos personagens fortes e negativos. Na TV, foi engraçado, porque acho que o público não acreditou muito", disse a atriz, também ao Memória Globo.

Seus últimos trabalhos na TV foram em "Órfãos da Terra", como Ester Blum, e uma participação em "Éramos Seis" (2020), como Madre Joana. Foi uma merecida homenagem à atriz, que havia interpretado a protagonista Lola na versão da trama exibida pela TV Tupi.

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