MP cobra explicações do paradeiro da placa que homenageia Stuart Angel

Remador do Clube, ele participou do grupo guerrilheiro MR-8 e desapareceu após ser torturado e morto pela repressão militar em 1971

Por Cezar Guedes em 09/05/2023 às 00:14:59
Foto: Sebastião Marinho/Reprodução Hildeangel

Foto: Sebastião Marinho/Reprodução Hildeangel

O Clube de Regatas Flamengo tem 10 dias para explicar o paradeiro da placa que homenageia o estudante Stuart Angel, morto sob tortura na Base Aerea do Galeão, no Rio, em 1971.

A placa estava em um memorial na sede de Remo do clube, na Lagoa, onde Stuart era remador. O objeto foi retirado durante as Olimpíadas do Rio, em 2016.

Para os procuradores regionais dos Direitos do Cidadão Jaime Mitropoulos, Julio José Araujo Junior e Aline Caixeta, o resgate e a preservação da história de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar, incluindo a conservação e restauração de monumentos alusivos a ela, constitui obrigação do Estado e um direito de toda sociedade.

Ainda de acordo com os procuradores da República, "trata-se de uma forma de garantir às gerações futuras o direito de conhecer as violações sistemáticas dos Direitos Humanos praticados pelo Estado, de modo a prevenir, inibir ou, pelo menos, mitigar as chances de que voltemos a repetir no futuro as violações já cometidas no passado". Sob esse aspecto, cabe aos agentes públicos e particulares responsáveis por esses bens prestarem informações que possam auxiliar na sua localização.

A placa desaparecida havia sido instalada em 2010 e não foi mais vista depois dos Jogos Olímpicos de 2016. Agora, o Ministério dos Direitos Humanos possui um projeto para reinaugurar a placa e não se tem informações sobre o local onde ela se encontra.

Stuart Angel - Stuart era filho da estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, e de Norman Angel Jones, de nacionalidade inglesa e norte-americana. Ele cresceu no Rio de Janeiro, onde cursava Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua militância política foi iniciada quando entrou na Dissidência Estudantil do Partido Comunista Brasileiro da Guanabara, que depois passou a se chamar MR-8. O grupo guerrilheiro foi um dos responsáveis pelo sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, Charles Elbrick, evento que foi transformado no filme "O Que é isso companheiro", décadas depois.

"Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na luta política costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra uma ditadura militar, mas se você examinar o programa político, que nos movia naquele momento, era voltado para uma ditadura do proletariado", declarou certa vez Fernando Gabeira, ex-integrante do Mr-8.

Segundo informações do Memorial da Resistência de São Paulo, o desaparecimento de Stuart é um dos mais conhecidos da ditadura militar, tanto no Brasil como no exterior, em virtude das denúncias de sua mãe, Zuzu Angel. Em depoimentos prestados à Comissão Nacional da Verdade, em 2014, testemunhas afirmaram que Stuart foi barbaramente torturado até a morte para que revelasse o paradeiro de Carlos Lamarca, um dos líderes da luta armada contra a ditadura.


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